Caso de priapismo há 19 horas
Paciente do sexo masculino, 39 anos de idade, deu entrada na emergência às 21 horas queixando-se estar com o pênis em ereção contínua e dolorosa desde às 2 horas da madrugada do mesmo dia. Referiu ainda que às 14 horas da tarde teve uma relação sexual completa com a esposa como tentativa desesperada de fazer o pênis perder a ereção, porém sem sucesso. Lembra que ereções prolongadas repentinas já haviam ocorrido outras vezes, mas que se resolveram de forma espontânea depois de algumas horas. Questionado porque não procurou logo o hospital, o paciente justificou que estava com vergonha e sempre achando que o pênis iria amolecer. O paciente negava traumatismos recentes, doenças ou uso de medicamentos ou drogas. Ao exame, ereção peniana em rigidez máxima, doloroso ao toque e com a glande do flácida. Com o diagnóstico de priapismo, o paciente começou a ser hidratado por via endovenosa e recebeu analgésicos. Inicialmente, foi realizada uma punção dos corpos cavernosos do pênis com um escalpe 19 e o sangue represado no seu interior foi aspirado, apresentando-se com coloração enegrecida e classificando o priapismo como de baixo fluxo (isquêmico). Foi aspirado 40 ml de sangue em duas vezes de 20 ml, levando a flacidez momentânea que rapidamente voltava à rigidez plena. A seguir, foi feita lavagem dos corpos cavernosos com soro fisiológico, sem êxito. Por fim, iniciou-se a injeção 1 ml de adrenalina diluída nos corpos cavernosos a cada 10 minutos, levando a flacidez do pênis e resolução parcial do priapismo somente após 5 injeções de adrenalina. O paciente foi encaminhado, no dia seguinte para investigação dos motivos que levaram ao priapismo.
Entenda o priapismo
Priapismo é uma ereção dolorosa, contínua, que se prolonga por mais de 6 horas. O priapismo pode ocorrer em todas as idades, desde em recém-nascidos até em idosos e até mesmo em pacientes impotentes. Quando não existiam medicamentos eficazes para impotência sexual, casos de priapismo eram muito frequentes pois um tratamento eficaz era a injeção de papaverina no pênis. Com a substituição desta terapia pelos comprimidos, a incidência caiu bastante.
Priapismo deriva da palavra grega Priapus, nome dado ao Deus Grego da Fertilidade. A estátua de Priapus consiste em uma espécie de diabo, da altura de um anão, com feição sádica e um pênis enorme em ereção do tamanho do de um cavalo. Na antiguidade, as jovens virgens que estavam prestes a se casar, sentavam em cima do falo gigante para serem defloradas por Priapus. Diziam que era para dar força na gestação e mais felicidade sexual. Quanto aos homens, aqueles que esfregassem a mão no grande pinto de Priapus teriam energia sexual até a velhice.
O priapismo pode ser classificado em venoclusivo (isquêmico ou baixo fluxo) e arterial (alto fluxo ). O de alto fluxo não produz isquemia (falta de oxigênio no pênis), geralmente decorre de traumatismos no pênis ou no períneo e não se trata de uma emergência médica, podendo o tratamento ser programado, pois não há isquemia e o consequente comprometimento dos corpos cavernosos, cuja integridade é fundamental para que o paciente preserve sua função erétil.
A verdadeira emergência urológica é o priapismo de baixo fluxo porque o sangue fica parado dentro do pênis devido a obstrução da saída, impedindo que o sangue circule. Devido a isso, o fornecimento de oxigênio fica prejudicado, o que pode danificar os corpos cavernosos e deixar o paciente com impotência sexual grave, principalmente se o priapismo se prolongar por mais de 12 horas seguidas, motivo pelo qual ele deve procurar uma emergência o mais rápido possível. Hoje em dia, as principais causas de priapismo são o uso de drogas psicotrópicas (clorpromazina), anti-hipertensivos, antidepressivos (trazodona), cocaína, anemia falciforme, nutrição parenteral e algumas neoplasias hematológicas, principalmente a leucemia.
O tratamento inicial se dá conforme descrito no caso acima. Caso o priapismo não se resolva com as medidas inicias, o próximo passo é o tratamento cirúrgico.